Oceanos mais quentes: sequencia de recordes atinge 14 meses seguidos

Os oceanos estão mais quentes. Os boletins mensais emitidos pela Agência Climática Europeia Copernicus mostram que maio de 2024 registrou novo recorde de temperatura média da das águas superficiais oceânicas localizadas entre as latitudes 60°S e 60°N, com 20,93°C, o mais alto da série histórica para o mês.

Mês a mês, os últimos 14 meses foram os meses mais quentes de seus respectivos períodos, segundo dados do ERA5 divulgados pelo Centro Europeu para Previsões Climáticas de Médio Alcance (ECMWF).

O gráfico abaixo, divulgado pelo ECMWF, mostra os dados dos últimos 12 meses. A faixa vermelha em destaque aponta a diferença entre a temperatura média global diária das águas superficiais dos mares e oceanos situados na faixa central do globo (60°S-60°N) em relação aos recordes anteriores.

A linha vermelha, que representa jun/2023 a mai/2024 quebrou todos os recordes anteriores, em sua grande maioria, pertencentes ao período de jun/2015 a mai/2016, representados pela linha azul. Em amarelo, temos o período anterior, jun/2022 a mai/2023, que mostra o início da sequencia de 14 meses recordes de temperaturas positivas inciando em abril de 2023.

Temperatura diária das águas superficiais entre as latitudes 60 S e 60 N entre junho de 2023 e maio de 2024 - Dados do ERA5 e gráfico elaborado pelo C3S e ECMWF.
Gráfico elaborado pelo C3S e ECMWF a partir de dados do ERA5.

Ainda é possível perceber o aumento gradual da temperatura média da água superficial dos mares e oceanos ao longo dos últimos 45 anos, o que mais uma vez prova que o aquecimento global é real e vem se agravando.

Oceanos mais quentes representam um risco para os ecossistemas marinhos, como o branqueamento e morte dos corais, lar de 25% da vida marinha. Segundo o relatório da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Corais, divulgado pela ONU, entre 2009 e 2018 perdemos cerca de 14% dos corais no mundo todo.

O aumento da temperatura da água superficial, também faz com que o volume de água se expanda, ocupando mais espaço, elevando o nível da água. Também aumenta a evaporação da água, alterando o volume das chuvas, possibilitando cenários de eventos extremos.

A imagem a seguir mostra as anomalias de temperatura do ar de superfície dos últimos 12 meses. Quanto mais vermelha a tonalidade no mapa, mais quente, acima da média referencial (1991-2020) a temperatura está, o mesmo vale para os tons azuis, só que inversamente proporcional. O que vemos são mais áreas vermelho-escuras.

Anomalias da Temperatura Superficial do Ar Global entre junho de 2023 e maio de 2024 - Copernicus C3S-ECMWF com dados do ERA5.
Elaborado pelo C3S e ECMWF a partir de dados do ERA5.

O impacto disso já é anunciado pela Agencia Norte Americana NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration "Administração Nacional do Oceano e Atmosfera" [em tradução livre]) que prevê uma temporada de furacões acima do normal em 2024, com ocorrência de 17 a 25 de tempestades nomeadas (com ventos acima de 62 km/h). Destas, 8 a 13 podem se tornar furacões com ventos de até 119 km/h, 4 a 7 com potencial de atingir as catgorias 3 a 5, quandos os ventos ultrapassam 178 km/h. As previsões divulgadas tem 70% de confiabilidade, segundo o NOAA.

Oceanos mais quentes, como o Atlântico evidenciado no mapa acima e a dinâmica atmosférica criada pelo La Niña, previsto para o fim do inverno do hemisfério sul, fomentam o surgimentos de tempestade com maior potencial destrutivo.

No Ártico, a alteração da camada de gelo sob o mar ficou ligeiramente abaixo da média, similar ao mesmo período do ano passado.

Na Antártica, a extensão da camada de gelo ficou 8% abaixo da média, a sexta menor extensão histórica para o mês de maio. O recorde negativo para maio pertence ao ano de 2023, quando a camada de gelo ficou 17% abaixo da média histórica.

Com o aquecimento do oceano antártico, a situação da chamada "Geleira do Juízo Final", ou a Geleira de Thawaites, do tamanho da estado da Flórida (EUA), se agravou, conforme mostra o estudo dos glaciologistas da Universidade de Califórnia (EUA), divulgado em 20 de maio. A geleira repousa sobre o mar e com águas mais quentes infiltrando as camadas submersas podem gerar instabilidade na estrutura da geleira, levando a um colapso gradativo, com potencial de elevar o nível dos mares em até 65 cm.

Vinícius Lapa

Bacharel em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e Tecnólogo em Gestão Pública pela UNIP (Universidade Paulista).

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