Brasil arde em chamas e registra o pior agosto dos últimos 14 anos

Brasil em chamas, é o que apontam os números consolidados do INPE para o mês de agosto de 2024. Historicamente o segundo mês com o maior número de queimadas, atrás somente de setembro, agosto registrou 68.635 focos de incêndio, um aumento de 145% em relação ao mesmo período do ano passado, que teve 28.056 focos. Em relação ao mês anterior, julho, que teve 22.478 registros, a alta foi mais expressiva, com 205%. Os dados apontam que tivemos o pior agosto dos últimos 14 anos.

Início de uma queimada na beira da Rodovia SP 360 no município de Serra Negra - SP em 29 ago 2024 - Foto de Vinícius Lapa para o Ecologia em Destaque.
Foto: Vinícius Lapa / Ecologia em Destaque.

Diversos estados bateram recordes de queimadas para o mês. Dentre eles podemos destacar o Amazonas, que teve 10.328 focos, aumento de 88,67% em relação a agosto de 2023 (5.474) e 143,53% em relação a julho de 2024 (4.241). O último recorde pertencia ao ano de 2021, com 8.588, superado em 20%. As queimadas na Amazônia foram tema de postagem no perfil NASA Climate no X (antigo Twitter), onde trouxe imagem de satélite evidenciando as grandes colunas de fumaça gerada pelas queimadas, que ocuparam o espaço dos rios voadores, levando-as a países vizinhos, chegando até os estados da região Sul.

Queimadas na Amazônia - Fumaça detectada pelo Satélite Aqua da NASA
Fonte: Satélite Aqua / NASA.

Outro estado que bateu seu recorde de queimadas foi São Paulo, que vivenciou um dia dramático na sexta-feira (23/8), quando registrou uma onda de queimadas criminosas que fez parte do estado ficar encoberto por uma densa fumaça devido o maior número de queimadas para um único dia desde do início dos registros, em 1998. De 1 a 31 de agosto de 2024, foram 3.612 focos contabilizados contra 352 do mesmo período em 2023, alta de 926,14%. Em relação ao mês anterior, julho, que contabilizou 499 focos, a alta foi de 623,85%.

Com bem menos focos de queimadas, os estados de Pernambuco (61) e Sergipe (7) registraram seus recordes para um mês de agosto. Na tabela abaixo você confere o número de focos de queimadas divulgados pelo INPE para cada estado e a comparação com o mês anterior e com o mesmo período do ano passado.

Estado Ago/23 Dif % → Ago/24 ← Dif % Jul/24
Acre 1388 44% 1997 231% 603
Alagoas 8 13% 9 800% 1
Amapá 69 -83% 12 - 0
Amazonas 5474 89% 10328 144% 4241
Bahia 694 37% 949 45% 655
Ceará 179 6% 189 226% 58
Distrito Federal 21 167% 56 0% 56
Espírito Santo 30 233% 100 23% 81
Goiás 488 130% 1120 126% 495
Maranhão 2431 19% 2892 25% 2320
Mato Grosso 2626 457% 14617 491% 2472
Mato Grosso do Sul 239 1845% 4648 228% 1419
Minas Gerais 1029 142% 2488 106% 1208
Pará 6725 105% 13803 323% 3265
Paraíba 31 3% 32 45% 22
Paraná 389 159% 1007 364% 217
Pernambuco 53 15% 61 165% 23
Piauí 1497 -1% 1489 144% 609
Rio de Janeiro 95 153% 240 64% 146
Rio Grande do Norte 19 42% 27 50% 18
Rio Grande do Sul 812 -11% 726 160% 279
Rondônia 1715 164% 4522 179% 1618
Roraima 78 -47% 41 1267% 3
Santa Catarina 473 54% 727 194% 247
São Paulo 352 926% 3612 624% 499
Sergipe 0 - 7 600% 1
Tocantins 1141 157% 2936 53% 1922

Fonte: INPE

Mato Grosso, apesar de não ter batido o recorde de queimadas para o mês, pertencente ao ano de 2010, foi o estado com maior registro no Brasil, com 14.617, atingindo sua pior marca nos últimos 14 anos, assim como o Pará, segundo estado em número de queimadas, com 13.803 focos registrados. Já o Mato Grosso do Sul registrou o pior agosto dos últimos 19 anos, com 4.648 focos de incêndio. Roraima registrou muitos incêndios, foram 4.522 detectados pelos satélites. Goiás, que teve o agosto de 2023 com o menor número de queimadas para o mês, registrou aumento de 129,5% em 2024, com 1.120 focos.

Queimadas por biomas

A Amazônia, maior bioma brasileiro teve 38.266 focos de calor, um aumento de 120% em, relação a agosto de 2023 (17.373) e de 235% em comparação com julho deste ano (11.434), pior marca desde 2010.

A Mata Atlântica, assim como a Amazônia, registrou o pior número de queimadas dos últimos 14 anos para agosto, com 6.033. Alta de 145% em relação a mesmo período do ano passado (2.466) e 247% quanto a julho de 2024 (1.739).

O Pantanal, bioma localizado a Oeste dos estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que vem enfrentando grande seca e está sendo devastados pelas chamas, registrou 4.411 queimadas, alta de 3.910% em relação a agosto do ano passado, quando registrou sua segunda menor marca em queimadas, com 110 focos. Em relação ao mês de julho, a alta foi de 262%, quando registrou 1.218 focos.

A cidade de Corumbá (MS) lidera o ranking das cidades que mais registrou queimadas durante o ano de 2024. Ela já acumula o registro de 4.395 focos de incêndio identificados pelo INPE.

No Cerrado, as queimadas atingiram o pior número desde 2012, com 18.620 focos, alta de 172% na comparação com agosto de 2023 (6.850) e 149% comparado a julho deste ano (7.463).

Na Caatinga, região mais árida do país, na região Nordeste, foram detectados 1.207 focos de incêndio na vegetação em agosto de 2024, alta de 12% em relação ao mesmo período do ano passado (1.080) e de 123% em relação a julho de 2024, que registrou 542 focos.

No Pampa, localizado no extremo sul do Rio Grande do Sul, foi o único bioma que registrou queda no número de queimadas no comparativo entre os meses de agosto de 2023 e 2024, com 177 e 98 respectivamente, uma queda de -44,6%. Já no comparativo com o mês anterior, como já esperado para essa época do ano, houve aumento de 19,5%, pois julho registrou 82 focos de calor. 

Chuvas abaixo da média

O clima seco e quente deste inverno vem contribuindo para aumentar o risco de incêndio na vegetação, principalmente na região central do Brasil. O mapa da direita mostra o quanto choveu no Brasil no mês de agosto. Podemos ver que grande parte da região central (MT, GO, DF, MG, TO, PI, BA, CE e MA) não registou chuva significativa no período. Outras localidades registraram chuvas de até 25 mm. Os maiores volumes, próximos a 200mm mensais ficaram em pontos isolados no extremo norte do Amazonas e em Roraima e no sul do Rio Grande do Sul.

O mapa da direita mostra a anomalia de chuva em agosto, que em outras palavras, aponta se choveu acima ou abaixo do esperado para o período. Quanto mais alaranjada a mancha no mapa, significa que choveu muito menos que o esperado e quanto mais azulado, mais acima da média choveu na região. Sabendo disso, vemos que são poucas as localidades em que a chuva ficou próximo da média esperada para agosto, enquanto a maior parte do país teve chuvas muito abaixo da média, com destaque para a região amazônica e o sul do Brasil, que foram as regiões que mais registraram chuva no período, mas mesmo assim, bem mais abaixo da média. Já a porção central, que não registrou chuva, ficou ligeiramente abaixo da média, pois agosto é um mês seco, mas geralmente registra alguma precipitação nessas regiões, segundo o histórico climatológico do CPTEC.

Fonte: CPTEC / INPE.

Vinícius Lapa

Bacharel em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e Tecnólogo em Gestão Pública pela UNIP (Universidade Paulista).

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